Filomena Marta

Filomena Marta

Acerca da esterilização/castração

A decisão de castrar o nosso animal indica o nível de responsabilidade que assumimos para com ele.
Existem muitos tabus e crenças à volta deste tema.
Pretendemos aqui clarificar a questão e elucidar.

O que é a esterilização/castração?

  • É um método cirúrgico através do qual a/o médica/o veterinária/o (e só veterinários!) retira os órgãos reprodutores.
  • Não dói. É feito sob anestesia e é considerada uma cirurgia de rotina em animais saudáveis.
  • Devem ser feitas análises ao sangue antes da cirurgia e o pós-operatório é geralmente rápido e sem complicações, devendo nos primeiros dias após a esterilização haver cuidado para que o animal se mantenha sossegado.
  • Antes da cirurgia deve ser feito jejum de pelo menos 12 horas (sem comida e sem água, caso haja mais de um animal em casa todos devem ficar sem água e alimento ou isolar o animal que vai ser sujeito à operação).
  • Nos machos, são retirados os testículos (gónadas), denominada castração.
  • Nas fêmeas, são retirados os ovários e o útero (ovariohisterectomia – OVH).
  • Estes são os órgãos responsáveis pela produção das hormonas sexuais e pela reprodução. Os processos hormonais desaparecem e o carácter do animal não sofre alteração.

Vantagens da Esterilização/Castração

  • Quando um macho atinge a maturidade sexual pode desenvolver comportamentos de marcação de território. É um processo ancestral e instintivo, para avisar outros machos (seus concorrentes para o acasalamento) que aquele é o seu território.
  • No caso dos gatos pode realmente ser extremamente desagradável, pois não se trata de urina simplesmente, mas de um “spray” atirado contra variados objectos, carregado de hormonas e com um cheiro muito intenso, permanente e extremamente difícil de eliminar, mesmo com lavagem dos materiais atingidos.
  • A maturidade sexual nos gatos pode acontecer a qualquer momento após os seis meses de idade, nas fêmeas podem acontecer cios precoces logo a partir dos cinco meses. Por isso, é sempre aconselhável fazer a esterilização antes do primeiro cio (até para prevenir problemas comportamentais), o que geralmente coincide com os cinco ou seis meses de idade.
  • Nos machos agressivos e/ou dominantes, esta tendência pode ser atenuada ou desaparecer. Isto deve-se ao facto de perderem a necessidade de controlar o seu território activamente contra outros machos.
  • As fêmeas deixam de ter o cio (consequentemente deixam de ter situações em que sofrem – sim, o cio é um enorme factor de stress e desconforto para uma gata que não pode cumprir o ciclo natural da reprodução! – e que também podem ser desagradáveis para a família, pois há fêmeas que vocalizam muito, de dia e de noite, como chamamento para o acasalamento).

A tudo isto acresce um factor de extrema importância para a protecção dos animais: é a melhor e mais eficaz arma contra a reprodução indiscriminada e consequente sobrepopulação de cães e gatos, que conduz ao abandono e ao abate sistemático.

Nas fêmeas:
Elimina a possibilidade de virem a contrair cancro do ovário ou do útero;
Previne a piómetra, uma infecção do útero que, se não for tratada a tempo (o tratamento inclui a esterilização), poderá conduzir à morte do animal;

Evita a pseudociese, conhecida como gravidez psicológica ou falsa gestação, que é um distúrbio hormonal bastante comum nas fêmeas;
Nas fêmeas esterilizadas antes do primeiro cio (cerca dos seis meses) há um risco muito baixo de desenvolver tumores mamários.

Nos machos:
Contribuiu para diminuir a agressividade para com outros machos e as brigas por fêmeas;
O ritual da demarcação de território com urina e os comportamentos possessivos ou dominantes tendem também a diminuir;
Diminui a ansiedade e o hábito de fugir ou de “montar” outros animais e pessoas, ou até mobília, almofadas e mantas;
Poupa ao animal algumas reacções instintivas relacionadas com o sistema reprodutor e, por exemplo, os machos ficam muito mais tranquilos;
Evita tumores testiculares, hérnias perianais, tumores de glândulas hepatóides, tumores de glândulas perianais, tumores e quistos prostáticos, entre outros.

Diminui o risco de contraírem doenças venéreas transmitidas pelo acto sexual ou ainda doenças transmitidas por dentadas de outros animais (lutas territoriais por dominância).
Diminui também o risco de atropelamento devido à tendência de fuga. • É importante salientar que, no caso dos cães, a esterilização não muda nada em relação à defesa territorial e agressividade por medo, ou seja, a esterilização não deixa o cão menos ou mais medroso, nem interfere no seu instinto de guarda. A personalidade do animal não muda.

Não estaremos a ir contra a Natureza?

  • Não.
  • Antes do direito natural da fêmea se reproduzir está o direito da ninhada não ser morta, por exemplo: atirada ao rio com poucos dias de vida, serem colocados no lixo vivos fechados em sacos plásticos, para morrerem de frio ou triturada dentro de um caminhão de lixo… e de muitas outras formas cruéis e desumanas.

O Ser Humano pode reproduzir-se, mas exerce sobre si mesmo o direito de fazê-lo ou não, mediante o uso de métodos contraceptivos. Hoje em dia, com a possibilidade de evitar a gravidez, nenhuma mulher tem tantos filhos (um por ano) quantos anos férteis e nenhum homem o exige. A Natureza ditou as mesmas leis para todos. Temos de ser nós, humanos, a ajudá-los!

Vamos privar o animal de ter vida sexual?

  • Não. Os animais não vivem a sexualidade como os humanos.
  • Para um animal o sexo é apenas o processo físico da reprodução. Tal como o comer e o beber são a garantia da sua sobrevivência individual, o sexo é a garantia da sobrevivência da sua espécie.
  • Para o homem, o sexo é uma finalidade em si mesmo; para o animal é apenas a concepção de outros indivíduos.
  • A prova é que a fêmea só aceita o macho quando está no cio, ou seja, quando o seu corpo apresenta uma exigência hormonal. Fora deste período, rejeita o macho de forma agressiva, o que quer dizer que para ela não existe uma situação de prazer relacionada com o sexo, e sim uma situação de necessidade hormonal.
  • Deve ser acrescentado que o acto sexual da gata com ao gato, a cópula, não significa de todo prazer, antes pelo contrário: a retirada do pénis do gato após a ejaculação provoca dor intensa na gata, processo que indica ao corpo que deve libertar o óvulo para inseminação, razão porque a gata se vira repentina e agressivamente para o gato.
  • O macho só procura a fêmea quando recebe a informação química de que ela está com o cio.

Os cães e gatos não têm um conceito de identidade sexual ou de ego. Esterilizar o animal não altera a sua personalidade de base e ele não sofre qualquer tipo de reacção emocional ou crise de identidade.

Devemos ter pena de operar o animal?

  • Não.
  • Principalmente por gostarmos dele devemos pensar que é uma intervenção que lhe vai ser benéfica e, em última análise, vai ser positiva para a própria família.
  • Se houver comportamentos incómodos de demarcação de território, irão desaparecer.
  • Temos naturalmente tendência para humanizá-los, para colocar o animal no nosso lugar. Quando o veterinário sugere a castração para um macho, o tutor masculino tende a “proteger-se” como se fosse sugerida para ele mesmo. É uma reação normal e lógica, mas a decisão de esterilizar um animal é para o bem quer do próprio animal, quer do tutor.

O animal engorda depois de castrado?

  • Um animal que tem uma alimentação inadequada engordará, operado ou não.
  • Seja ou não esterilizado, a dieta do animal deve ser equilibrada e de boa qualidade.
  • No caso de animais esterilizados a comida deverá ser adequada, própria para animais esterilizados, e deverá fazer exercício físico frequente.

Hoje em dia já há rações específicas para animais esterilizados, com menos calorias, para prevenir o aumento de peso, disponíveis em veterinários e em lojas especializadas em animais.

O animal muda de carácter?

  • Depois da castração só se modificam os comportamentos ligados às hormonas, como a marcação do território.
  • Muitas vezes, quem muda de caráter é o próprio tutor, que se torna mais protector e amigo do seu animal: ou porque tem pena de o ter castrado, ou porque o animal “já não incomoda tanto”. Em qualquer dos casos a mudança é sempre positiva.

Uma fêmea deve ter pelo menos uma ninhada?

  • Não.
  • Esta ideia é falsa.
  • A reprodução é um processo hormonal e químico. Ter uma ninhada não lhe traz mais saúde.
  • Uma vez que as fêmeas estão esterilizadas, não têm cio, não há o processo reprodutor. Nem terão gravidezes psicológicas.
  • Há provas clínicas que indicam que as fêmeas esterilizadas antes do primeiro cio são tipicamente mais saudáveis.
  • Actualmente, muitos médicos veterinários esterilizam cães e gatos tão cedo como as oito semanas de vida: chama-se esterilização precoce (praticada há já vários anos, por exemplo, nos Estados Unidos da América).

Deve aconselhar-se sempre com o seu veterinário sobre a melhor altura para esterilizar o seu animal.

Os veterinários não sugerem a esterilização ou castração apenas para ganhar dinheiro?

  • Os veterinários são profissionais qualificados para fazer esta sugestão, pois o seu dever é zelar pelos animais, tanto os animais que já existem, como os animais que nascerão de ninhadas indesejadas.

A castração beneficia os animais nascidos indesejavelmente?

  • Há estudos que provam que uma cadela, com o seu ciclo reprodutor, dá origem no prazo de 6 anos a 6.000 animais.
  • Metade dos cachorros morrem cedo: por doença, ou porque são atirados aos rios, colocados vivos em sacos de plástico, em contentores de lixo, etc. Dos que sobrevivem apenas uma pequena parte tem a sorte de ser adoptado. Os outros milhares são abatidos sistematicamente em canis e estradas.
  • Não existem números nacionais, mas as estatísticas dos Estados Unidos podem ser extrapoladas para a realidade de outros países, como Portugal:
  1. Entre 6 e 8 milhões de cães e gatos entram todos os anos nos abrigos de protecção para animais
  2. Entre 3 e 4 milhões de cães e gatos são eutanasiados todos os anos
  3. 25% dos animais nos canis são de raça pura
  4. Uma gata fértil pode ter em média 3 ninhadas por ano
  5. Cada ninhada de uma gata pode ter entre 4 a 6 crias
  6. Uma cadela fértil pode ter em média 2 ninhadas por ano
  7. Cada ninhada de uma cadela tem em média entre 6 a 10 filhotes

As leis recentes que penalizam os maus-tratos a animais e a proibição de canis de abate não teve ainda um reflexo positivo no controlo de animais errantes e no nível de abandono, maus-tratos e/ou negligência.

E se o cão/cadela for de raça pura, devemos castrar?

Um em cada quatro animais que são encontrados abandonados são de raça pura. E há algo ainda mais cruel nos animais de raça, que é a necessidade de mais cuidados veterinários. Quando o dono se farta de um animal destes, por já não querer gastar mais dinheiro com ele, dá-o a alguém que, por ser de raça, o aceita. Mas o problema mantém-se… e vivem sem condições para a sua raça, podendo terminar no abandono. Dos animais de raça, 90% não nascem em criadores legais, e sim em criadores de fundo de quintal, sem acompanhamento veterinário ou condições adequadas de higiene, não sobrevivendo aos primeiros meses de vida ou arrastando problemas crónicos de saúde. A criação “caseira” de animais de raça leva à morte de milhares de animais todos os anos.

Será que o cão/cadela castrado serve para guarda?

Esterilizar não afecta o instinto natural de um cão para proteger a sua casa e a sua família. A personalidade do animal depende da sua herança genética e do seu meio ambiente, e não das hormonas sexuais. Mas no caso de você querer um animal apenas para guarda, sugerimos que compre um alarme electrónico.

Quando as pessoas querem ter filhotes da sua cadela?

Muitas vezes as pessoas querem ter filhotes dos seus animais de estimação por dois motivos: porque querem “manter” eternamente consigo o animal qe tanto amam, ou porque querem que os seus filhos assistam ao “milagre da vida”, na sua própria casa e não através de um programa televisivo. No primeiro caso, recorde sempre que, tal como acontece com as pessoas, não há dois animais iguais… e a probabilidade de um filhote da sua gata ou cadela ser igual à mãe é menor do que a probabilidade que tem de ganhar a lotaria.

No segundo caso, o do “milagre da vida”… a verdade é que está a tirar a possibilidade de adopção a animais que realmente precisam de ser adoptados, que nasceram nas ruas, porque os seus progenitores um dia foram abandonados!, que foram vítimas de abandono, que nasceram de ninhadas indesejadas (por falta da imprescindível esterilização)… que estão nos canis e gatis municipais, nas associações e com protectores particulares, quando sobrevivem ao inferno da rua. Recorde que não há animais de rua: há animais que um dia alguém abandonou à sua triste sorte, porque a selva urbana não é um habitat natural para nenhuma outra espécie que não a Humana.

Mesmo que uma criança consiga ver o nascimento de um animal – o que é pouco provável, porque normalmente acontece durante a noite e em sítios escondidos – a lição que aprendem é a de que os animais podem ser criados e descartados à vontade dos adultos. Essa não é uma boa lição. Em vez disso, deve ser explicado às crianças que o verdadeiro milagre é a vida, e que evitar o nascimento de alguns animais de estimação pode salvar a vida de outros.


Um bebé animal é um ser frágil e desprotegido que inspira muita compaixão. Se quiser viver em casa esta experiência sublime e ensinar aos seus filhos o respeito pela vida alheia não é necessário que a sua cadela ou gata tenha uma ninhada. Telefone a qualquer associação e acolha uma fêmea prestes a dar a luz ou já com sua ninhada. Você poderá cuidar deles até que possam ir para adopção. Será uma experiência duplamente gratificante: a da nova vida e a da generosidade para com os animais abandonados.

E quando as pessoas insistem em ter um filho do cão/gato?

Nenhum filho do animal vai ser a sua cópia. Mesmo quando se trata de raças puras. Um em cada cinco animais abandonados é de raça pura.
É preferível, quando ele já tiver deixado esta vida, pensar nele como um ser insubstituível e único. E quando estiver em condições, pense em adoptar outro. Infelizmente, há tantos milhares de animais à espera de adopção.
As pessoas dizem sempre que se responsabilizam pelas crias… Ninguém duvida disso. Mas o pior é depois, senão veja: você terá uma ninhada que dará a pessoas próximas de si, que por sua vez também querem ter uma ninhada. Considerando que uma fêmea tem apenas duas ninhadas em toda a sua vida – se for gata 12, se for cadela 20 ninhadas – e tendo em conta que metade das crias são fêmeas, que procriam na mesma proporção, com uma taxa de100% de sobrevivência dos descendentes em cinco anos nascerão 300.000 animais. Destes, a maior parte acabará por ser abandonada, e por morrer em canis de abate, sendo outros envenenados, mutilados, atropelados, enfim, e tudo será responsabilidade do proprietário inicial.




SEJA CONSCIENTE E HUMANO.

CONTRIBUA PARA ACABAR
COM UM DOS MAIORES PROBLEMAS DO NOSSO PAÍS: OS ANIMAIS ABANDONADOS!

Charles Darwin
cientista e naturalista britânico
pai da teoria da evolução


“A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes
da natureza humana.”

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